Trajetória dedicada à militância
Criado no bairro Auxiliadora, aos 52 anos, o
socialista Érico Corrêa vê na luta política diária a sua razão de viver.
Quem atende a porta do apartamento de Érico Corrêa é a
secretária da casa, Solange, que passa roupas na sala de paredes adornadas com
reproduções populares de telas de Van Gogh e Modigliani. Após alguns instantes,
ele entra. "Solange, eles vão fazer fotos, vai ali dentro. Tá tudo
arrumado, a gente nem comeu em casa ontem porque vocês vinham...".
E assim, em tom de brincadeira, o candidato do
PSTU à Prefeitura de Porto Alegre começa a contar a história do menino nascido
e criado no bairro Auxiliadora, que ajudou a fundar no Estado o PT e o PSol,
rompeu com ambos, tem a vida pessoal fundida à atuação sindical e estufa de
forma inconsciente o peito quando fala da única filha, Gabriela.
Os capítulos da sua vida são recheados de
avaliações sobre os partidos, o sistema eleitoral, os governos. Se o ritmo da
campanha altera muito sua rotina? "Faço mais política fora desta época do
que nela. A nossa vida é a luta política", resume, em uma das várias
referências a sua atual companheira de vida, Neida de Oliveira, vice-presidente
do Cpers.
Aos 52 anos, Érico considera ter se politizado
tardiamente. Começou a militar mesmo quando a Caixa Econômica Estadual, onde
era funcionário de carreira e chegou a gerente-geral, fechou. Mas faz questão
de se colocar no centro de dois episódios recentes da política gaúcha.
"Fui um dos organizadores da manifestação em frente à casa da Yeda (a
ex-governadora Yeda Crusius). E, no ano passado, estava entre os que não
deixaram o Tarso (o governador Tarso Genro) subir no caminhão na Marcha dos
100", lembra o homem que diz ser o Cpers a "única oposição" aos
governos Yeda e Tarso.
Ao PSTU, Érico filiou-se recentemente para
participar da corrida à prefeitura, já que a sigla e o grupo político ao qual o
sindicalista pertence discutem uma aproximação. Servidor público ativo lotado
na Secretaria da Administração, sua principal ocupação é a presidência do
Sindicaixa (em quarto mandato) para o qual está liberado há 12 anos.
Para responder aos adversários políticos que
apontam contradições entre o discurso em favor do "proletariado" e a
confortável vida de classe média, responde: "É como quando me criticam por
verem alguma faixa ou cartazes meus no Auxiliadora. A gente preza muito a
classe operária. Mas isso não significa que não possamos ter nada. Veja o
Lenin, nunca trabalhou (dentro do conceito clássico marxista para definir
trabalhadores)".
Com a mesma lógica, Érico explica a participação
nas eleições ou as alianças eventuais com partidos que seu grupo critica (como
a que ocorre no Cpers). "As mesmas forças que sustentam os partidos
regulam o sistema eleitoral e as eleições não mudam a vida. Se fosse assim, já
teriam mudado alguma coisa. Mas participamos porque são momentos ricos e também
porque se abre mais espaço. A gente não pode fazer da política uma coisa
utópica. Temos que ter o que Marx chamava de paciência histórica."
“MINHA
CONSCIÊNCIA VEIO DA LITERATURA”
Érico Roni Maslinkiewicz Corrêa nasceu em 1960, e passou a
infância e adolescência no bairro Auxiliadora. "Estudei no Piratini, a
melhor escola pública da época, e temia o Mont Serrat, onde a gente não entrava
porque era um tipo de Vila Conceição de atualmente", conta.
Com orgulho, lembra o sacrifício do pai, jovem
inspetor de Polícia que, por 25 anos, fez bicos como porteiro de boates para
sustentar a família. Em matéria de política, contudo, sempre divergiram.
"Minha consciência política veio da literatura. Erico Verissimo, Machado
de Assis, Graciliano Ramos. A indignação com as coisas da vida me movia, só não
sabia como enfrentar isso."
O momento de efervescência política no país foi
marcado também por grandes mudanças na vida pessoal. No início dos anos 1980,
Érico, que começava a vida adulta, casou e se mudou da Auxiliadora de sua então
vida inteira para um apartamento que o pai tinha no Orfanotrófio. No final
daquela década, novos acontecimentos: nascia sua filha, Gabriela, publicitária
e estudante de Direito, hoje com 26 anos.
O início do século XXI traria mais mudanças para
Érico. Já à frente do Sindicaixa e separado da primeira esposa, em 2003, ele
conheceu Neida de Oliveira. Passou, como gosta de dizer, a "respirar
política".
“COZINHAR,
A TERAPIA PREFERIDA”
Quando não está envolvido em atividades como dirigente
sindical ou militante político, Érico Corrêa recebe amigos no apartamento,
recém-reformado da avenida Alberto Bins, que ele e Neida dividem há dois anos.
Em casa, gosta de cozinhar como forma de terapia.
Assegura preferir cozinhar a viajar. "Faço qualquer comida, mas
principalmente peixes e massas." Os pratos são regados a um bom vinho,
claro.
Os períodos de lazer, diz, são reduzidos, mas sobra
tempo para pequenas viagens. O destino predileto dele e de Neida é a capital
argentina. Só que, mesmo com a predileção por Buenos Aires, a viagem apontada
como inesquecível foi a realizada em 2008 para Santiago do Chile. Érico ainda
se dedica a concluir o curso de Sociologia, que faz à distância, na Unijuí.
"É uma faculdade com tradição de esquerda", destaca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário