Fotos: Pedro Rubleski |
Por Matheus Gordo
Hoje, novamente tivemos a certeza de que o momento que estamos
vivendo é histórico. A Greve Geral dos Servidores Federais está mais forte do
que nunca e já é uma luta que nos proporciona diversas lições. É a partir desse
setor importante do nosso país (que abarca trabalhadorxs da educação, saúde e diversos
serviços públicos), que se unificam as pautas da juventude e do conjunto da
classe. Pela manhã fizemos um ato com cerca 400 pessoas, que trancou por mais
ou menos uma hora a Ponte do Rio Guaíba, na entrada da cidade.
Foi uma ação radicalizada, necessária frente à continuidade
da intransigência de Dilma. Como lembrou a companheira Vera Guasso, há cerca de
10 anos isso não acontecia em Porto Alegre. Já são quase 3 meses de greve e o
governo demonstra o seu total descompromisso com a população, pois as propostas
apresentadas são rebaixadas, não contemplam anos de perdas salarias e precarização
do serviço público. Além disso, as negociações foram suspensas pelo governo, o
que impossibilita a volta ao trabalho!
Grevistas de cerca de vinte órgãos públicos estiveram
presentes, com o apoio de estudantes, bancários, professores do estado,
municipários. O movimento negro também se unificou na luta e a pauta da defesa
das cotas e do Quilombo Rio dos Macacos na Bahia esteve presente. Eram muitas
vozes diferentes, fazendo um barulho tremendo e expondo com orgulho o caráter
nacional da mobilização, dessa vez a grande imprensa não conseguiu ignorar.
O bloqueio da mídia é algo impressionante. Eles não divulgam as
ações realizadas e ignoram as pautas dos grevistas diariamente nos noticiários.
Quando são obrigados a fazer a cobertura e (teoricamente), informar a
população, fazem de tudo para criminalizar o movimento e favorecer os governos.
A grande mídia é adversária central das organizações sociais e políticas que
atuam de forma independente, pois eles disputam a consciência da classe
conosco! As matérias veiculadas pelo Grupo RBS são as mais bizarras: na
internet, no rádio e na televisão (almoço com o JA e janta com o JN). Hoje
inclusive citaram os integrantes do DCE como suposto “depredador do patrimônio
público”, quanta mentira!
A questão é que quando as coisas se acirram, a disputa se
torna evidente e fatos incomuns e um tanto complexos começam a acontecer. Hoje,
durante a mobilização, um grupo com cerca de 200 motoqueiros se aproximou da
barreira corporal feita pelos manifestantes. Me pareceu que a Polícia
Rodoviária liberou a passagem deles prevendo a confusão, mas enfim, eram 8h30 e
já estávamos lá a cerca de uma hora, já iriamos seguir com o ato para o Centro.
Mas, infelizmente alguns não quiseram esperar e exigiram a liberação da estrada
de forma agressiva.
Tentávamos explicar com calma para a galera: “essa
mobilização é em defesa do conjunto dos trabalhadores”, “é por vocês, pela
saúde e a educação pública e de qualidade”. Muitos eram os argumentos, mas foi difícil
segurar! Houve um princípio de tumulto, mas que conseguimos evitar com um
acordo, liberando por um momento parte da estrada para o grupo. De qualquer
forma, ficou evidente o motivo do stress: eram muitos jovens trabalhadores,
grande parte constituídas por negros, super explorados diariamente, que
arriscam suas vidas nesse trânsito maluco. Ganham por hora, por isso a pressa. A
angústia deles era a mesma que a nossa, ou seja, garantir melhores condições
vida. O inimigo também era o mesmo, os
governos e empresários sanguessugas. Mas isso, por hora não conseguimos
explicar.
Por vezes despejamos nossa raiva no alvo equivocado, acredito
que foi o que ocorreu hoje. Mas eu sou esperançoso, sei que vamos conseguir
resgatar a solidariedade entre a nossa classe. Entendo que não é fácil, ainda
mais quando aqueles que protagonizaram as últimas lutas que paravam estradas e
tinham naquele momento tinham grande confiança da população, são os que hoje estão no governo,
aplicando as medidas de austeridade e envolvidos em escândalos de corrupção. Esses ensinam diariamente a ideia utópica da conciliação de interesses entre as classes, além de pregar a dependência entre as nossas organizações e as deles, grande desserviço!
É parte importante de nossa tarefa nessas eleições ajudar a
classe a enxergar o seu verdadeiro inimigo! É possível retomar a confiança em
nós mesmos, voltar a acreditar que é possível mudar. Precisamos ter força e
paciência e o dia de hoje é prova do tamanho do nosso desafio, é a hora de continuar
nos mobilizando nas ruas e dando o troco nas urnas!